quarta-feira, 17 de junho de 2009

Ao fraco faz forte

Por bispo Flori da Igreja Batista Palavra Viva

“Forjai espadas das vossas relhas de arado e lanças, das vossas podadeiras; diga o fraco: Eu sou forte” ( Jl 3.10).

Depois dos quarenta anos de paz, resultantes do livramento pelo Senhor quando Débora era juíza, o povo voltou a fazer o que era mau, e, como castigo foram dominados pelos midianitas por sete anos.
Os midianitas eram descendentes de Abraão e de sua segunda mulher, Quetura (Gênesis 25.1, 2). Como nação, haviam sido destruídos nos dias de Josué (Josué 13.21, 22). Mais de dois séculos depois, seus descendentes se tornaram poderosos novamente e, aliados aos amalequitas, dominaram sobre o povo de Israel, destruindo suas plantações e apossando-se do seu gado, ovelhas e animais de carga. Para se defenderem, os israelitas tiveram de fazer covas nos montes, cavernas e fortificações. Existem evidências delas ainda hoje.
O Senhor escolheu Gideão, da tribo de Manassés. Esta tribo tinha por herança a planície de Jezreel, ótima para lavoura, mas quando os midianitas e amalequitas vieram, eles fugiram para os montes. Gideão estava ocupado, malhando o trigo para ocultá-lo dos midianitas. Não estava trabalhando no alto do monte, ao ar livre, aproveitando o vento, onde normalmente seria feito esse trabalho, mas no lagar onde se espremiam as uvas, para não ser visto. Sem dúvida Gideão estava frustrado, e foi nessa situação que o Anjo do Senhor foi falar com ele.

Os Midianitas e os povos inimigos de Israel representam todo o tipo de dificuldades que enfrentamos. Os adversários sempre que destruíam o que Israel construía. E, por isso, Gideão estava escondido no lagar, malhando o trigo, tomado pelo medo. E o anjo de Deus o encontrou.

Deus jamais desiste do homem

Deus não desiste de nós. Nesse cenário de derrotas, o Anjo do Senhor se apresenta a Gideão com a seguinte mensagem: O senhor é contigo homem valente.

Deus sempre toma a iniciativa de restaurar uma pessoa. Assim aconteceu em Gênesis 12 quando ele aparece a Abrão. Sabe por que? Ele se interessa por nós, mesmo quando violamos seus princípios.
O mais importante nesse episódio, é meditar na forma como Deus trata os caídos. Gideão é um tipo do ser humano caído. Ele representa o homem cercado de problemas, que foi derrotado pelos adversários. Representa toda natureza humana que se afastou de Deus, e seguiu seus próprios deuses.
Mas o que eu mais gosto nisso tudo, é que Deus fala com o homem de maneira amorosa.
Em João 3.16 diz que “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”.

Os sofrimentos deixaram marcas em Gideão.

A psicologia de Deus sempre foi avançada. Hoje se sabe que devemos tomar muito cuidado com uma pessoa depressiva, porém, Deus sabia disso milhares de anos atrás. Gideão era um homem fracassado naquele momento. E conhecendo a natureza do ser humano, ao dirigir-se a ele, o anjo usou palavras motivadoras. Isso mostra todo o cuidado que Deus tem com as pessoas, mostra todo interesse dele em restabelecer alguém.
“Valente, eu sou contigo”. É essa a forma de Deus falar com as pessoas que estão em lutas. Com essa expressão Deus começa a vivificar seus sonhos e a restaurar a fé. Deus começou um processo de cura na alma de Gideão. Do ponto de vista de Gideão, ele era um homem vencido. Do ponto de vista de Deus, ele era uma valente.
As marcas de Gideão aparecem em destaque:

1. Porque estou sofrendo. Qual a causa disso tudo? (6.13a).
“Se o SENHOR é conosco, por que nos sobreveio tudo isto?”
2. O Senhor mudou? O que é feito do seu poder? (6.13b).
“E que é feito de todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito?”.
3. Sentimento de abandono (6.13c).
“Porém, agora, o Senhor nos desamparou e nos entregou nas mãos dos midianitas”.

Diante do desafio, Gideão apresentou diante de Deus três objeções:

1. “Com que livrarei Israel?” (6.15a).
2. “Eis que a minha família é a mais pobre em Manassés” (6.15).
3. “E eu, o menor na casa de meu pai” (6.16c).

Deus trabalha assim. Ele nunca olha você pelas circunstâncias momentâneas. As derrotas são passageiras. Por isso, ele vê você com os olhos do futuro. Ele sabe que ao voltar o seu coração para ele, as coisas tomarão novos rumos.
Gideão era da tribo de Manassés, filho mais velho de José, e em Deuteronômio 33.13 quando Moisés impetrou a bênção sobre Manassés, afirmou que Manassés seria como um touro. Em seu DNA havia a semente da vitória.
Mas digamos que você não nasceu em uma família de bem-aventurados, o nome de seu pai, não consta nos anais das celebridades, e então você imagina que tudo o que descrevi acima, não lhe diz respeito. Se você pensa assim, eu quero lhe dar uma notícia: Você sempre esteve incluído nos planos de Deus.
Você é tão importante que antes de nascer alguém já lhe conhecia.
Imagina só, no dia em que fomos gerados, ninguém sabia, nem os que mais nos amam podem afirmar com exatidão o momento em que fomos concebidos. Mas, lá na eternidade, onde ninguém pode acessar, alguém estava de olho em você.
Sim, meu amigo, é isso mesmo. Pode você hoje não ter a importância que imagina. O governador do Estado nem sabe que existimos (Para eles somos apenas números). Mas, para Deus todos existimos, somos uma pessoa tão importante que ao nascer, os céus pararam.
“Pois tu formaste o meu interior, tu me teceste no seio de minha mãe. Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem; os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra. Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda (Sl 139.13-16).
Deus pode do nada, fazer tudo. O salmista afirma que Deus vê a substância ainda informe, e vê na substância informe, um homem feito. A terra era ainda sem forma e vazia e ele a visualizava como um jardim, um lugar de paz. Ele viu em Gideão um homem forte, que poderia ser um instrumento de mudança social. Ele vê o seu futuro. Acredita em você. Basta aceitar o desafio e sair da caverna, pois tem lugares e montes que você deve escalar.
O que eu mais acho interessante, é que Deus não perde tempo, procurando explicar o passado; ao invés disso o anjo procurou despertar o verdadeiro homem que existia em Gideão. Procurou fazer com que os olhos de Gideão se voltassem para dentro dele, e ver o seu valor em Deus. Ficar discutindo o passado naquele momento era a mais pura perda de tempo, e é isso que muita gente está fazendo hoje, perdendo o seu tempo.
Sobre o passado paulo da o seguinte conselho:

“Não estou querendo dizer que já consegui tudo o que quero ou que já fiquei perfeito, mas continuo a correr para conquistar o prêmio, pois para isso já fui conquistado por Cristo Jesus. É claro, irmãos, que eu não penso que já consegui isso. Porém uma coisa eu faço: esqueço aquilo que fica para trás e avanço para o que está na minha frente. Corro direto para a linha de chegada a fim de conseguir o prêmio da vitória. Esse prêmio é a nova vida para a qual Deus me chamou por meio de Cristo Jesus” ( Fp 3.12-13).

Deus curou o passado de Gideão, fazendo-o olhar o futuro.
O desafio pra você que me está ouvindo é o seguinte.
Saia do lagar, pois aí onde você está sua visão é limitada. Fora, você pode ver o sol, o céu, as, montanhas e o mar. O homem é exatamente aquilo que vê. A visão que você desenvolve é a sua semente.
Abrão é exemplo do que quero dizer. Ele tinha a promessa de uma posteridade enorme. Estava com 99 anos e seu filho não havia nascido. Como poderia alguém ser pai de uma multidão se nem um filho tinha? Mesmo sendo pai dos que creem, estava muito desanimado, e nesse momento veio a palavra de Deus para ele.
“Disse mais Abrão: A mim não me concedeste descendência, e um servo nascido na minha casa será o meu herdeiro. 4A isto respondeu logo o Senhor, dizendo: Não será esse o teu herdeiro; mas aquele que será gerado de ti será o teu herdeiro. Então, conduziu-o até fora e disse: Olha para os céus e conta as estrelas, se é que o podes. E lhe disse: Será assim a tua posteridade. Ele creu no Senhor, e isso lhe foi imputado para justiça” (Gn 15.3-5).
Lembro-me do ano de 1992. Estávamos começando a igreja e vivíamos uma fase muito difícil. Além de não crescer, as poucas pessoas que estavam conosco, não tinham uma estrutura capaz de me ajudar. Muitas vezes não tinha dinheiro nem para pagar ônibus; em outras ocasiões, faltava alimento.
Passamos momentos difíceis. Além das dificuldades existentes, meu filho, com dois anos, tinha bronquite. Num domingo, à tarde, foi tomado por uma forte crise. Eu e minha esposa ficamos desesperados, sem saber o que fazer. Não tínhamos carro e nem telefone para chamar uma ambulância. Depois de algum tempo, a crise passou. No entanto, depois de tudo, eu pensei: como vou falar ao povo sobre prosperidade se sou pobre? Como vou falar sobre saúde, se meu filho é doente? Minha autoestima estava tão baixa, pois até para ir à igreja eu dependia de que alguém me desse carona. Nesse clima de sonhos roubados e de derrotas, eu vivi uma grande experiência com Deus. Eu havia aprendido que certos problemas nos desautorizavam a pregar, e essa compreensão triunfalista aumentava ainda mais minha dor, e nesse clima, veio ao meu coração como se fosse audível o salmo 126
(...). Os que com lágrimas semeiam com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando, enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes.
Hoje meu filho tem 20 anos, estuda cinema, é ministro de louvor, fala fluentemente inglês. A Bíblia diz em Habacuque: “Ainda que a figueira não floresça, nem haja fruto na vida, o produto da oliveira minta nos currais não haja vaca e as ovelhas da malhada sejam arrebatadas, todavia eu me alegrarei”.