sábado, 15 de agosto de 2009

Evangélicos sem igreja

O crescimento numérico da igreja evangélica tem impressionado a todos. Entretanto, pesquisadores revelam que o grupo que mais tem crescido nos últimos anos é o dos “crentes sem igreja” – pessoas convertidas, mas que, decepcionadas com os rumos da pregação e da instituição, optaram por uma caminhada pessoal, vivida na intimidade, ou então pela formação de pequenos grupos nos lares, reeditando o cristianismo do primeiro século.

Após tanto crescimento e alguns escândalos, a igreja evangélica estará diante de uma crise? Ou estará passando por uma nova Reforma? O fato é que muitos andam descontentes com o que vêem e questionam o modelo de igreja refletido na mídia. Se este desapontamento não pode mais ser ocultado, cabe a pergunta: de que igreja os cristãos sentem falta?

A crise ética de alguns setores, abordada na edição de março de Enfoque, é um fator importante, mas não o único, que tem contribuído para um certo mal-estar no rebanho. Convertida há 12 anos, a enfermeira Carla Fontenelle dá um alerta: “Os pastores, encastelados em seus feudos, viraram celebridades intocáveis e inacessíveis, mas as ovelhinhas estão todas de orelhas em pé”.

Carla conta que já esteve à procura da igreja perfeita, mas concluiu que todas têm seus pontos fortes e pontos fracos: “Nas igrejas históricas, o estudo da Bíblia é minucioso, porém não desperta a sua fé. Aí, a gente vai para uma neopentecostal, fortalece a fé, aprende sobre batalha espiritual, enfrenta seus problemas com a Palavra, mas logo vem a pressão mercantilista e a gente percebe que nosso papel ali é o de sustentar um ministério caro”. Hoje, Carla sonha com uma igreja mais humana, onde as pessoas encontrem espaço para dividir suas fraquezas, sem medo de ficarem estigmatizadas. Ela sonha com igrejas que não abram somente no horário do culto, “onde se possa encontrar aconchego e silêncio para meditação”. A enfermeira lamenta também o distanciamento dos pastores que “ficaram muito ocupados para cuidar de pessoas”.

Impasses como os descritos aqui acontecem mais do que se imagina. Sônia Bastos é uma assessora jurídica que freqüenta há 11 anos a mesma igreja e há seis participa de um ministério, mas conta que vem orando a Deus por uma nova denominação. “Confesso que já fui mais feliz onde eu estou. Fatos desagradáveis aconteceram envolvendo a liderança e comecei a refletir sobre a questão da árvore e seus frutos. Tenho orado, mas Deus me tem dito para esperar”.

Decepções com líderes à parte, Sônia sente falta de uma igreja alegre, “onde sinta prazer em ir e em levar as pessoas”. Para ela, a falta de comunhão entre os irmãos é um problema sério e acredita que cabe à liderança criar estes espaços de convivência.

Para casos como o de Sônia, a instrutora bíblica norte-americana Joyce Meyer tem um conselho: “Fique calma!”. Ela tem sido enfática em suas mensagens matutinas na televisão de que o cristão é que deve mudar sua atitude em relação a si mesmo e à igreja. “O mundo não vai mudar ao seu redor, as pessoas não vão mudar. Então, o melhor é você mudar! Não decolar junto, quando uma emoção quiser levantar vôo”, recomenda.