sábado, 20 de novembro de 2010

Papa tenta travar execução de cristã no Paquistão

Cristã paquistanesa vai ser executada por blasfémia. Mais de 30 condenados por críticas ao islão foram mortos em ataques de radicais.

Asia Bibi está perto de se tornar a primeira mulher a ser executada no Paquistão pelo crime de blasfémia contra o profeta Maomé, se não for revista, pelo tribunal de recurso de Lahore, a pena de enforcamento a que foi condenada dia 7 por um juiz da cidade de Nankana, localidade na província do Punjab.

Os cristãos representam menos de 3% dos 167 milhões de habitantes do Paquistão.

A situação da católica paquistanesa, de 45 anos, foi ontem referida pelo Papa Bento XVI ao mencionar a "difícil situação" dos cristãos naquele país, onde são "frequentes vezes vítimas de violências e discriminações".

"Manifesto hoje, de modo particular, a minha solidariedade para com a senhora Asia Bibi e sua família. Peço que lhe seja restituída a plena liberdade, o mais rapidamente possível", afirmou Bento XVI, que falava na Praça de São Pedro, em Roma.

A situação de Asia Bibi foi também evocada pelo ministro para as Minorias, Shahbaz Bhatti, o único cristão no Governo de Islamabad. Adversário da legislação sobre blasfémias, em vigor desde 1986, Bhatti revelou ontem às agências noticiosas que o Executivo indicara às autoridades locais a "necessidade de se proceder a nova investigação, que cumpra todos os requisitos legais", o que não sucedeu com aquele de que resultou a condenação.

Na mesma ocasião, o ministro tornou claro que "deve ser garantida a segurança" de Asia enquanto estiver presa. As execuções extrajudiciais de cristãos são frequentes no Paquistão. Estes são muitas vezes atacados nas ruas por grupos de muçulmanos radicais.

Um recente exemplo destes ataques verificou-se na cidade de Faisalabad, em Julho, quando os irmãos Rashid e Sajid Emmanuel, respectivamente de 32 e 30 anos, foram abatidos a tiro por um grupo de cinco indivíduos ao serem levados, sob custódia policial, do tribunal de volta para a prisão.

Os irmãos Emmanuel eram acusados de terem escritos textos a denegrir a figura de Maomé.

Outra situação frequente é a discriminação das populações cristãs, relegadas para empregos menores ou funções ingratas. A nível local, os cristãos são muitas vezes expulsos, as suas casas destruídas e os seus terrenos ocupados. Segundo grupos de apoio aos cristãos perseguidos, muitos destes são forçados a viverem como refugiados no seu próprio país.

Até hoje, nenhum acusado de crimes de blasfémia veio a ser executado. No entanto, 33 destes acusados acabaram por encontrar a morte em ataques semelhantes àquele que vitimou os dois irmãos de Faisalabad.

O caso de Asia Bibi, habitante da vila de Ittanwali, teve o seu início em Junho de 2009 quando aquela, num dia de trabalho nos campos, se preparava para recolher água de um poço. Um grupo de mulheres impediu-a de segurar o balde do poço, porque, sendo uma "infiel" (designação dos cristãos entre os muçulmanos) era uma "mulher impura".

Quando Asia Bibi argumentou que o cristianismo era a verdadeira religião, as mulheres acusaram-na de estar a insultar Maomé e, na discussão que se seguiu, alguns homens a trabalhar nas proximidades tentaram agredir a católica paquistanesa.

Asia Bibi fugiu, mas foi perseguida e muitos dos habitantes de Ittanwali atacaram a sua casa e agrediram-na. No dia seguinte, o imã local apresentou queixa na polícia por blasfémia, e Asia foi detida.

O juiz que condenou Asia Bibi escreveu na sentença que esta fora justamente acusada de blasfémia, negando a existência de quaisquer circunstâncias atenuantes no seu caso, segundo o texto do veredicto consultado pela AFP.

O islão paquistanês tem vindo a radicalizar-se desde os tempos do regime militar do general Zia-ul-Haq entre 1978 e 1988. O general apostou na islamização do país numa conjuntura marcada pela invasão soviética do Afeganistão e como instrumento para travar a influência do comunismo na região.


Fonte:DN Globo Portugal
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