segunda-feira, 25 de julho de 2011

Neopentecostalismo: Uma fábrica de bebês chorões

As igrejas hoje estão mais repletas de carentes do que de crentes.

Estou querendo dizer que, nesses dias de renascimento do cristianismo medieval e de recrudescimento das superstições evangélicas, há aqueles que se aproximam de Deus muito mais como crianças em busca de satisfação para seus caprichosos desejos infantis do que como pessoas de fé interessadas em amadurecer espiritualmente para melhor conhecer a vontade do Senhor e aplicá-la de maneira eficaz no viver diário.

Revelando uma colossal imaturidade, a multidão de carentes só se importa em testemunhar prodígios maravilhosos e milagres fantásticos, em conquistar prosperidade financeira ao estilo do capitalismo mais ganancioso e materialista, em obter curas imediatas tão somente para os males físicos enquanto os males do caráter permanecem intocáveis, em entorpecer-se com cânticos repetitivos de forte apelo emocional que mais se assemelham a mantras hipnóticos, em presenciar espetáculos deprimentes de supostos possessos sendo humilhados diante da congregação e da audiência televisiva, em ouvir animadores de auditório travestidos de pregadores com declarações fervorosas, e coisas do tipo.

Essa gente sobrecarregada de carências, frustrações, complexos e neuroses torna-se ainda mais neurótica, complexada, frustrada e carente quando cai nas garras de manipuladores eloquentes que bem sabem como explorar seus sentimentos e emoções, impondo rédeas sufocantes e conduzindo o rebanho manhoso aos pastos ressecados e às tranquilas margens do pântano.

São, na verdade, bebês chorões. São crianças birrentas com excesso de vontades e melindres. Nada que o amadurecimento da fé não resolva. Mas preferem continuar na infância espiritual, com chupetas e mamadeiras, fraldas e babadores, chocalhos e ursinhos de pelúcia. Em vez de autênticos pastores, querem babás. Em vez de comida sólida, querem leite e papinha. Em vez de aprender a andar, querem continuar engatinhando.

Isso é uma combinação explosiva: de um lado, liderados cheios de carência; de outro, líderes vazios de caráter.

Só podia dar no que se vê por aí: uma perfeita acomodação sado-masoquista entre igrejas que exploram e crentes explorados, ou entre pastores que manipulam e ovelhas manipuladas.
Num estudo sobre o neopentecostalismo, o sociólogo da religião Antônio Gouvêa Mendonça estabelece cinco marcas principais dessas comunidades de crescimento fenomenal entre evangélicos. Transcrevo-as:

1. Características empresariais de prestação de serviços ou de oferta de bens de religião mediante recompensa pecuniária, com modernos sistemas de administração e ‘marketing’ ;

2. Distanciamento da Bíblia, usada esporadicamente sem nenhum rigor hermenêutico ou exegético;

3. Inexistência de comunidade (seus frequentadores são clientes e a relação entre a empresa e o cliente é na base do do ut des);

4. Como não há comunidade de adoração e louvor, o culto tem características de ajuntamento de interessados na obtenção imediata dos favores sagrados;

5. Intenso ambiente de magia.

A rigor, não são igrejas identificadas com os ideais do reino de Deus. São creches que refletem o ideal de Peter Pan, onde ninguém cresce. Permanecem todos como meninos. Os meninos perdidos da Terra do Nunca.


Fonte: Carlos Novaes no Púlpito Cristão
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