segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Esqueceu que você é salvo?

Porque somos naturalmente muito mais inclinados a olhar para nós mesmos e para nossa performance do que para Cristo e o que ele fez, precisamos constantemente de lembretes do evangelho.

Se, supostamente, devemos pregarmos o evangelho para nós mesmos todos os dias, qual é o verdadeiro conteúdo dessa mensagem? Do que exatamente eu preciso ficar me lembrando?

Você já…

Se Deus te salvou, Ele está te dando a fé para crer, você é agora um cristão, e você transferiu a confiança nas suas realizações e habilidades para a realização de Cristo, em nome dos pecadores – então aqui estão as boas novas. Na fraseologia de Colossenses 1, é simplesmente isto: Você já foi qualificado, você já foi entregue, você já foi transferido, você já foi redimido, e você já foi perdoado.

Tem sido largamente aceito que, no grego original, Efésios 1.3-14 era uma única longa sentença. Paulo começa tão submergido na absoluta grandeza, imensidão, tamanho e doçura da maravilhosa graça de Deus que nem sequer parou para respirar. No coração da sua eleição está a ideia de “união com Cristo”. Fomos abençoados, ele escreveu, “nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (1.3): nós fomos escolhidos (v. 4), agraciados (v. 6), redimidos (v. 7), reconciliados (v. 10), predestinados (v.11), e selados para sempre (v.13). Tudo o que precisamos, Paulo diz, já é nosso se estamos em Cristo. Ele já assegurou completamente tudo o que nossos corações estimadamente anseiam.

Tudo o que precisamos já é nosso se estamos em Cristo. Ele assegurou tudo o que nossos corações estimadamente anseiam.

Uma compreensão estilhaçadora

Portanto, não precisamos mais confiar em posições, na prosperidade, nas promoções, na pré-eminência, no poder, no louvor, nos prazeres passageiros, ou na popularidade que já perseguimos tão desesperadamente por tanto tempo. Dia a dia, o que podemos fazer praticamente só pode ser experimentado assim que chegamos a um entendimento mais profundo de onde estamos posicionalmente – um entendimento profundo do que já é nosso em Cristo.

Eu costumava pensar que crescer como um cristão significava que eu teria que, de alguma forma, sair por aí e obter as qualidades e atitudes que estavam em falta em mim. Para a maturidade verdadeira eu precisaria achar um caminho para conseguir mais alegria, mais paciência, mais fidelidade, e assim por diante.

Então, cheguei a uma estilhaçadora compreensão de que não é isso que a Bíblia ensina, isso não é o evangelho. O que a Bíblia ensina é que amadurecemos à medida que chegamos a uma maior compreensão do que já temos em Cristo. O evangelho nos transforma precisamente porque não é em si uma mensagem sobre a nossa transformação interna, mas, sim, sobre a externa substituição realizada por Cristo. Nós, desesperadamente, precisamos de um Advogado, um Mediador, e um Amigo. Mas, o que mais precisamos é de um Substituto. Alguém que pôde fazer e assegurar por nós o que nós nunca poderíamos fazer ou assegurar por nós mesmos.

O que a Bíblia ensina é que amadurecemos à medida que chegamos a uma maior compreensão do que já temos em Cristo.

Menos de mim, mais de Jesus

O árduo trabalho do cristão é pensar menos em si mesmo e em sua performance e mais em Jesus e na performance dEle por mim. Ironicamente, quando nos focamos principalmente em nossa necessidade de melhorar, na verdade, pioramos. Nos tornamos neuróticos e concentrados apenas em nós mesmos. A preocupação com os meus esforços acima dos esforços de Deus por mim me faz cada vez mais autocentrado e morbidamente introspectivo.

Você poderia afirmar isso desta forma: santificação é o árduo trabalho diário de voltarmos para a realidade da nossa justificação – recebendo as palavras de Cristo, “está consumado” em partes novas e mais profundas do nosso ser a cada dia, em nossas regiões rebeldes de incredulidade. Isso é voltar para a certeza de nosso perdão garantido objetivamente em Cristo, apertando o botão “reset” mil vezes por dia. Ou, como Martinho Lutero colocou tão adequadamente em seu Prefácio à Carta de São Paulo aos Romanos, “progredir é sempre começar de novo”. O real progresso espiritual requer um diário “regredir”.

Em seu livro Porque Ele me ama, Elyse Fitzpatrick escreve sobre a importância da memória no crescimento cristão:

"Uma razão pela qual não crescemos em ordinária e grata obediência como deveríamos é porque temos amnésia, nós esquecemos de que somos limpos dos nossos pecados. Em outras palavras, a falha em curso na santificação (o lento processo de se tornar parecido com Cristo) é resultado direto da falha em lembrar do amor de Deus por nós, visto no evangelho. Se nos falta o conforto e segurança que o Seu amor e perdão são destinados a fornecer, nossas falhas vão ser como algemas aos nossos pecados de ontem, e não teremos fé ou coragem para lutar contra eles, ou o amor de Deus [do qual nos esquecemos], que é destinado a capacitar essa guerra. Se nós falhamos em lembrar da nossa justificação, redenção, e reconciliação, vamos lutar ainda mais na nossa justificação."

Em outras palavras, o crescimento cristão não acontece primeiro por nos comportarmos melhor, mas por crer melhor – crendo em maiores, mais profundos e mais luminosos caminhos que Cristo já assegurou para pecadores.

Pregue isso para você todos os dias e você irá experimentar cada vez mais a escandalosa liberdade que Jesus pagou tão caro para garantir para você.


Tradução: Fernanda Vilela
Fonte: Tullian Tchividjian no iPródigo
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