quarta-feira, 28 de março de 2012

Idosos hospitalizados sofrem mais problemas de memória

Idosos que são hospitalizados têm mais risco de sofrer problemas cognitivos depois de receberem alta, de acordo com um estudo publicado na revista “Neurology” e motivo de artigo do “New York Times”. O motivo ainda não se sabe, mas acredita-se que tanto a doença que levou o paciente para o hospital quanto os tratamentos recebidos durante a internação contribuam para tal. E o risco parece permanecer durante vários anos, segundo Robert Wilson, autor do estudo e professor de ciências neurológicas e comportamentais na Centro Médico Universitário Rush, em Chicago.

Wilson e sua equipe examinaram informações de 1.355 pessoas, com 65 anos ou mais, que participaram do Projeto Saúde e Envelhecimento, um estudo de longo prazo sobre doenças crônicas desenvolvido em três áreas de Chicago com população bastante diversificada. Todos os pacientes foram hospitalizados em algum momento entre janeiro de 1993 e dezembro de 2007. Eles passavam por entrevistas a cada três anos, quando também eram submetidos a testes de avaliação de seu estado mental. Pelo menos uma entrevista ocorria antes de uma hospitalização e duas depois, para permitir a comparação.

Os pesquisadores descobriram que o nível de declínio cognitivo de muitos dos pacientes mais velhos aumentou significativamente após uma estada no hospital, afetando seu raciocínio e memória. É normal que haja alguma perda nesta fase da vida, mas ela mais do que dobrou.

— É como se as pessoas ficassem dez anos mais velhas do que eram, do ponto de vista cognitivo, depois de uma hospitalização — explica Wilson, ressaltando que o problema não ocorreu com todos os pacientes cujos dados foram analisados.

Especialmente vulnerável a este efeito foram as pessoas com doenças mais graves, que permaneceram hospitalizadas por longos períodos, e pacientes que começaram a apresentar problemas de memória e raciocínio antes de serem internados.

— Achamos que um período no hospital pode revelar e acelerar problemas cognitivos identificados previamente — conclui Wilson.

Já é sabido que a internação pode interferir na habilidade dos pacientes idosos de executar atividades diárias tais como tomar banho e vestir-se sozinho, lembra Kenneth Covinsky, professor de geriatria da Universidade da Califórnia.

— O que essa nova pesquisa faz é confirmar algo de que suspeitávamos, mas não havia dados suficientes para afirmarmos isso antes deste estudo — disse ele.

Ele frisa que é importante que a família do paciente esteja ciente do problema, para ajudá-lo na volta para casa.

— É preciso entender que, quando seu parente idoso volta do hospital, ele pode passar por um período de muita vulnerabilidade —disse Covinsky. — E pode precisar de mais apoio ainda (do que antes da hospitalização).

Para Malaz Boustani, professor associado de medicina na Universidade de Indiana, o delírio — uma transformação abrupta no estado mental que ocorre em 20% dos pacientes hospitalizados — pode ser o responsável pelo declínio cognitivo observado mais tarde e mostrado no estudo do Centro Médico Universitário Rush. Quando acometidos por delírio, os pacientes ficam confusos, desorientados e agitados, ou, pelo contrário, alheios e recolhidos.

— O delírio já foi tratado como algo transitório. Mas, cada vez mais, vem sendo considerado um dano cerebral que pode mudar a trajetória do estado cognitivo — diz Boustani. — Mesmo quando a pessoa está supostamente recuperada, parece haver um efeito residual.

O que é preciso descobrir agora, diz o médico, é se o problema ocorre em consequência da doença que levou o paciente ao hospital ou pelo tratamento dado a ele durante a internação.

— Mas parece que as duas coisas contribuem — diz ele.

Professora associada de medicina da Universidade de Washinton, Catherine Hough afirma que o declínio cognitivo pós-hospitalização pode estar ligado a efeitos de longo prazo — e pouco estudados — de medicamentos recebidos durante a internação.

Outros fatores podem contribuir, a longo prazo, para o declínio cognitivo, como pequenos derrames, nível de açúcar no sangue não controlado e falta de atividade mental durante o tempo de internação, diz a médica.

Felizmente, observa Robert Wilson, como há meios de prevenir o delírio e controlar estes outros fatores, é legítimo acreditar que o declínio cognitivo de pacientes idosos após a internação é algo que se pode prevenir.


Fonte: O Globo
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