sábado, 6 de outubro de 2012

De volta ao mundo sertanejo, cantora Sula Miranda abandona música gospel e reassume o título de “Rainha dos Caminhoneiros”


Sula Miranda: 'Eu não me sustentei com a música gospel'

Sete anos atrás, Sula Miranda  abandonou a coroa de “Rainha dos Caminhoneiros” para investir em si na carreira de cantora gospel. Agora, comemorando 25 anos de estrada na esteira do sucesso do CD lançados no fim de 2011, ela voltou a fazer shows e reassume, meio por acidente, sua majestade no mundo sertanejo. “Na verdade, não seria uma volta, eu só tinha pensado em comemorar meus 25 anos de carreira gravando o DVD. Mas não tem como abandonar o meu público mais uma vez”, conta Sula em entrevista exclusiva.

As novidades na carreira se refletem na sua vida pessoal. Solteira e sem endereço fixo no momento, Sula recebeu iG Gente em um hotel no bairro dos Jardins, em São Paulo, onde passa temporada com o filho,  Natan , de 14 anos, enquanto espera que sua nova casa fique pronta.

Evangélica, Sula Miranda é a parte mais discreta de uma família polêmica. Irmã de Gretchen, a eterna "Rainha do Bumbum", e tia de Thammy Miranda, que assumiu ser homossexual em 2006, ela conta que a relação com a irmã é feita de divergências e de gratidão. “Eu vejo a Gretchen muito pouco, a vida nos levou para caminhos diferentes, mas, na hora do vamos ver, estamos aí uma para a outra. Se hoje eu tenho essa trajetória, devo muito a ela. Por conta dos erros dela, eu pude acertar mais.” Já Thammy é o seu "bebê". "Independente das escolhas dela, ela é a minha princesa."

Confira o bate papo com a cantora...

iG: Como está sendo sua volta ao universo sertanejo?  
Sula Miranda:  Na verdade não era uma volta, o plano era comemorar meus 25 anos de carreira gravando um DVD e um CD. Fiz parceria com empresas do segmento caminhoneiro, como montadoras, para que o produto chegasse na mão do caminhoneiro, que é meu público. Mas... não tem como abandonar o meu público mais uma vez. Está sendo um presente.

iG: Como o público está te recebendo? 
Sula Miranda: Parece que eu não parei. Aonde quer que eu vá, as pessoas me recebem com tanto carinho, com tanta atenção, que realmente parece que eu nunca saí.

iG: Por que você não gravou “Caminhoneiro do Amor”, seu maior sucesso, neste CD? 
Sula Miranda: Não tinha nada a ver eu regravar agora. No DVD, sim, mas no CD eu preferi gravar “Caminhoneiro”, do Roberto Carlos , que foi um presente que ele me deu. Além disso, ele ainda me abençoou mais uma vez me deixando cantar “Jesus Cristo”.

iG: Como é sua relação com a Gretchen? 
Sula Miranda: A Gretchen sabe das minhas escolhas, eu sei das escolhas delas e a gente se respeita. Se eu aprovo, se ela me aprova, não interessa, mas a gente pensa uma na felicidade da outra. Eu a vejo muito pouco, a vida nos levou para caminhos diferentes, mas, na hora do vamos ver, estamos aí uma para a outra. Ainda que a gente esteja longe, ela sabe que conta comigo e eu conto com ela. Existe esse pacto na nossa família.

iG: Como está seu coração de tia com relação à estreia de Thammy na TV em "Salve Jorge"?  
Sula Miranda:  Falar da Thammy é complicado para mim. Ela é minha filha também. Ela é meu bebê, literalmente. Você viu que linda que ela está? Foi a primeira que nasceu na família e quem ficava com ela no colo era eu. Independente das escolhas dela, ela é a minha princesa. Ela sabe que eu sou o apoio nos momentos mais difíceis, que o colo está aqui para ela, que eu sou a base dela. Com todo o respeito pela minha irmã, eu sou a segunda mãe dela.

iG: Você acha que ela vai se dar bem na TV?
Sula Miranda:  Estou muito feliz por ela. Ela procurou tantos trabalhos e agora se encontrou. Não sei se foram as minhas orações, as da minha mãe, as da Gretchen, mas chegou a hora dela. Ela se descobriu, porque nem atriz ela era. Tomara que aproveite essa oportunidade da melhor forma possível. Ela está se sentindo valorizada.

iG: Como foi para sua família quando ela decidiu tornar pública sua orientação sexual? 
Sula Miranda: A gente não vai encontrar ninguém que fez uma escolha dessas e que a família achou tudo lindo e aceitou de primeira. Se você tem um filho, você cria toda uma expectativa para ele, ainda mais a Gretchen, com toda a sensualidade dela. Por conta própria, ela escolheu fazer diferente, ser diferente. Existia essa expectativa, inclusive da minha parte, mas aí a gente aprendeu a aceitar as escolhas dela como ser humano. O tempo vai se encarregando de mostrar o ser humano que ela se tornou, e não as expectativas que nós criamos. Independente do que eu gostaria, do que eu espero, eu quero que ela seja feliz, mesmo porque ela não interfere nas minhas escolhas. O que nos separa é menor do que o que nos une.

iG: O que você achou da Gretchen em “A Fazenda”? 
Sula Miranda:  Eu não curto reality show, mas fui obrigada a assistir por culpa da Gretchen, pra ver o que ela está fazendo. Para minha mãe é que deve ser engraçado, porque tem uma filha como a Gretchen, cheia de polêmicas, outra convertida e uma sobrinha com suas escolhas. Eu acreditava muito na vitória dela, mas eu acho que ela surtou mesmo. Mas posso falar? Ela foi ela. Ela é assim mesmo, não adianta. Quando dá os cinco minutos, faz o que está com vontade. É a nossa cara: perdemos um milhão, mas não perdemos nossa dignidade. O milhão do filme pornô, que todo mundo criticou, ela sabia que era dela, mas esse do programa, não.

iG: Te incomoda ou te constrange ter uma irmã e uma sobrinha tão polêmicas? 
Sula Miranda: Não. O que me afeta é que a gente nunca consegue passar essa relação verdadeira entre a gente. A Gretchen para mim sempre foi uma referência, um exemplo. Vou te dar um exemplo bobo de infância. Ela era a filha mais velha, a desbravadora, a polêmica, então, na hora de apanhar, ela ia primeiro na fila. A surra dela era muito mais forte que a minha. Eu acho que tenho essa postura hoje porque eu via os erros dela, as repreensões dela, e eu daí eu não fazia igual para não apanhar como ela. Eu devo muito a ela. Por conta dos erros dela, eu pude acertar mais. Na formação da minha personalidade tem muito da Gretchen. Ela sempre aprontou muito. 

iG: Vocês brigaram muito? 
Sula Miranda:  Muito, exatamente por isso. Como eu aprendi a ver as coisas de um jeito diferente a partir dos erros dela, tentava mostrar para ela que, se ela já bateu a cabeça em um momento, por que bater de novo em outro? Mesmo no filme pornô, eu aconselhei, falei para não fazer, mas são escolhas que só ela pode fazer. Você viu que depois ela se arrependeu, mas ela quis fazer. A Thammy também quis bater a cabeça, e, por mais que eu aconselhe, não posso interferir. Amanhã ou depois, meu filho pode fazer escolhas que talvez eu não aprove, é a vida.

iG: As capas dos seus CDs sempre foram sensuais. Você se arrepende?  
Sula Miranda: Não, porque são sensuais e não sexuais. Eu sempre consegui ser sensual e não sexual, não vulgar. Eu tenho uma sensualidade natural. As capas satisfizeram meu desejo, mas hoje não faria mais. Não é por culpa da religiosidade, mas porque já estou com 49 anos, não tem nada a ver. Eu tenho um filho de 14 anos, não precisa. Hoje é desnecessário eu fazer de novo.

iG: O título de “Rainha dos Caminheiros” te incomodou em algum momento? 
Sula Miranda: Nunca, pelo contrário. Primeiro porque eu nunca me vi como símbolo sexual. Eu me cuido, claro, mas por respeito ao meu público e porque eu gosto, mas não porque quero ser a ‘Rainha dos Caminhoneiros’. Eu sempre tive muito respeito e atenção deles. Eu digo que eu confio mais neles que em qualquer pessoa.

iG: Você acha que esse “boom” de mulheres frutas é pejorativo para a classe artística?
Sula Miranda: Olha, isso sempre existiu. O tempo vai se encarregar de levar todo mundo que não tiver conteúdo embora. Veja a Gretchen. Ela é a “Rainha do Bumbum”, um ícone, e mesmo com toda aquela sensualidade e tudo mais, ela mostrou conteúdo e ficou. Quantas não vieram depois tentando pegar o posto dela, com um bumbum melhor? Podem criticar, falar que ela fez plástica, filme pornô, mas ela sempre se manteve ai. Ela sempre vai ser a rainha do bumbum, assim como a Xuxa vai ser sempre a “Rainha dos Baixinhos”. Eu até pensei que poderia surgir outra rainha dos caminhoneiros com a minha saída, mas quem o público elegeu, ninguém tira. 

iG: Como você vê a música sertaneja atual?
Sula Miranda: Está num momento muito bom, mas você percebe que as coisas estão muito descartáveis. E, infelizmente, hoje tem uma questão séria, que é a compra do espaço para o artista aparecer. Mesmo um Zezé, um Chitão, um Leonardo, que têm muito talento, também têm que compartilhar desse sistema e comprar seu espaço, porque senão nem eles vão tocar. Para estar de volta eu terei, sim, que entrar para esse pacote e comprar meu espaço.

iG: Você encerrou sua carreira gospel?
Sula Miranda: Não. Na verdade eu não consigo separar uma coisa da outra. Nesse CD mesmo tem muita música gospel, eu não vejo problema em cantar sertanejo e propagar minha fé. O Roberto, a Clara Nunes, o Daniel , todos sempre propagaram a sua fé. Muita gente acha que vai para o gospel para ganhar dinheiro, o que não existe. Se você for medir valores de cachê, não dá nem para comparar. Se você me contratar para um show sertanejo, você vai pagar R$ 50 mil, mas se me contratar para ir numa igreja me apresentar, cantar meus louvores, o preço é outro, fica entre R$ 3 mil e R$ 5 mil. Eu jamais me sustentaria com a música gospel. Eu tenho um padrão de vida caro, não é assim que funciona. As pessoas que se sustentam só com o gospel têm outro padrão de vida.

iG: Como você se sustentou durante esses anos? 
Sula Miranda: Mesmo cantando gospel, eu não deixei minha carreira de apresentadora da CNT, onde tenho dois quadros do programa do Leão, de decoradora de lado. Esses são o meu “ganha-pão”. Eu sempre precisei de outras atividades. O gospel nunca me sustentou.



Fonte: IG
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