sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Tumba com nomes bíblicos provoca um duelo judicial em Israel

Cineasta Simcha Jacobovici dentro de uma caverna durante as filmagens, em Jerusalém

Enquanto o mundo cristão comemora o nascimento de Jesus Cristo, documentário de cinco anos atrás sobre a suposta descoberta, em Jerusalém, do túmulo que poderia abrigar os restos do carpinteiro da Galileia e de sua família provoca um duelo judicial em Israel. O documentarista israelense Simcha Jacobovici ingressou com ação por danos morais na Justiça contra o antropólogo Joe Zias. 

O motivo do processo são as críticas de Zias ao teor do teledocumentário O Túmulo Perdido de Jesus (2007), exibido pelo Discovery Channel, coautoria entre Jacobovici e o cineasta hollywoodiano James Cameron (Titanic).

A polêmica dorme na mesa do juiz Jacob Shienman, da cidade de Petah Tikva, ecoando desde a Terra Santa para todo o mundo. Porém, mais polêmico que o bate-boca entre os dois estudiosos, com Jacobovici se dizendo agredido pelas dúvidas levantadas por Zias a respeito do local onde teriam sido encontrados os pregos do crucifixo, é o conteúdo do filme. 

Basicamente, ele mexe com a seguinte dúvida: onde estaria o túmulo de Jesus e sua família? E outras vêm na sequência, a respeito das próprias figuras bíblicas de Jesus e de Maria Madalena.

Pois o documentário trata de dar respostas, especialmente quanto à localização da tumba. Conta que, em 1980, nas escavação para uma obra no bairro de Talpiot, em Jerusalém, os operários descobriram um túmulo judeu que datava do século I. Jesus e sua família eram judeus praticantes.

Dentro da tumba, havia 10 ossários, seis deles com os nomes dos mortos gravados em aramaico ou hebraico. Em um, constava “Yeshua bar Yosef “(Jesus filho de José). Nos outros, “Maryam” (Maria), “Yosa” (apelido de José), “Matya” (Matheus),”Yeuda bar Yeshua” (Judas filho de Jesus) - e, para espanto dos estudiosos, “Marya'ne”(Maria Madalena).

A descoberta suscita curiosidade e debate entre acadêmicos e religiosos.

— Há um diálogo de surdos entre interesses religiosos, científicos e midiáticos. Do ponto de vista histórico e científico, a tumba não traz repercussões. Ninguém duvida da existência histórica de Jesus. E José e Jesus eram nomes dos mais comuns na época — diz José Hildebrando Dacanal, autor de Eu Encontrei Jesus (2004).

Igreja contesta alusões a possíveis restos de Cristo

Um dos pontos mais polêmicos: dizem estudiosos que dificilmente Jesus poderia ter sido enterrado em um local que não fosse a Galileia. Mais que isso: Jesus era desprovido de recursos financeiros, tinha família modesta e vivia na Galileia - não em Jerusalém. Sendo assim, seu enterro deveria ter sido na Galileia e sem ornamentos.

Outros estudiosos do assunto, como Luiz Felipe Ribeiro, professor de Literatura Bíblica da Faculdade Evangélica de Brasília, concordam que Jesus carecia de recursos financeiros, mas não descartam o sepultamento em Jerusalém. Nas palavras de Ribeiro, os ossários encontrados em Talpiot são “intrigantes”.

A Igreja é refratária a cientificismos. Quaisquer que sejam.

— O que se sabe é que Jesus foi sepultado, mas ressuscitou e subiu aos céus — diz dom Remídio Bohn, bispo de Cachoeira do Sul.

Portanto, não haveria restos mortais.

Antropólogos se mostram céticos quanto à tumba de Talpiot

Documentário de cinco anos atrás trata de suposta descoberta, em Jerusalém, do túmulo que poderia abrigar os restos do carpinteiro da Galileia e de sua família

— Jesus nasce, morre e vive como judeu de origem camponesa, tinha ótica camponesa de encarar o mundo. Não se admite que um líder de gente pobre e explorada tivesse dinheiro para comprar um terreno e construir coisas caras como esses ossários? E o nome Jesus é muito comum — sustenta André Chevitarese, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Autor de livros como Jesus Histórico — Uma Brevíssima Introdução, Chevitarese compara o movimento liderado por Jesus, de judeus oprimidos pelos romanos, com a Coluna Prestes na República Velha.

— Eles não podiam parar. As autoridades estavam sempre no calcanhar deles — compara.

E acrescenta:

— Não se encontram ossos de judeus crucificados — diz Chevitarese.

Francisco Marshall, que desde 1996 lidera projetos arqueológicos da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em Israel, é ainda mais cético. Diz ser "impossível" qualquer conclusão da sua área sobre o tema, pois os escritos evangélicos não são contemporâneos aos episódios narrados e porque "um miserável seminômade" como Jesus não deixaria vestígios.

— Não existe, nunca existiu e jamais existirá arqueologia de personagens daquela natureza.




Fonte: Zero Hora
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