quarta-feira, 17 de abril de 2013

Existe amizade depois do namoro?

Confesso que tenho evitado o assunto de namoro depois de escrever tantos textos sobre esse tópico e ficar meio estigmatizado como “o cara que escreve sobre namoro”. Essa pergunta, porém, volta e meia aparece e senti que seria bom compartilhar os meus pensamentos a respeito.

A pergunta que não quer calar: existe amizade depois do namoro? Não existe resposta rápida, fácil ou sistemática para essa questão, pois cada caso é um caso. Se um dos indivíduos em questão é um ladrão ou serial killer ou coisa do tipo, então é óbvio que não há como manter uma amizade. Mas para todos os outros casos mais normais de pessoas de mente sã que lidam com a pergunta, vou expor o que sinto ser uma abordagem saudável à questão. Peço que lembre apenas de duas questões. Primeiro, minha opinião não é normativa. É difícil estabelecer uma fórmula matemática para resolver este problema. Nesse texto me proponho apenas a levantar questões para serem devidamente analisadas com o intuito de acrescentar algo à vida daqueles que se encontram perante nessa situação.

Há pessoas que responderiam sem pensar duas vezes que não há, em hipótese qualquer, a possibilidade de se cultivar uma amizade pós namoro. Inclusive, tenho pessoas muito estimadas e queridas que afirmam justamente isso. Entendo perfeitamente as razões por trás dessa posição e concordo com elas, em sua grande maioria. Eu não chegaria a dizer que é impossível se ter uma amizade pós namoro, apenas acho pouquíssimo provável. Penso assim pelas seguintes razões.

Quando um casal começa a namorar, além da ocasional intimidade física que alguns se permitem, existe uma intimidade pessoal, afetiva e emocional exclusiva a esse tipo de relacionamento. Há um sentimento de confiança e dependência vinculados. Eles às vezes se falam toda noite, compartilham um com o outro segredos, anseios, coisas que não se fala com “qualquer um”, pedidos de oração, períodos devocionais etc. Cria-se um vínculo que é muito forte. Há (no caso de relacionamentos genuínos e não apenas iniciados pela vontade de namorar) uma amizade que precede o namoro que é desenvolvida e fortificada, um compromisso firmado no qual os dois se dispõe a se tornar vulneráveis e “baixar a guarda” um com o outro. Mas, por melhor que sejam as intenções de cada um, o namoro nem sempre dá certo…

E aí? Como ficam as coisas? Acabou? Simples assim?

É complicado. Vejamos as razões disso.

O fim do namoro não significa apenas que duas pessoas param de se beijar, de andar de mãos dadas e saírem sozinhas. Não é tão simples assim. Esse aspecto mais comportamental é mais fácil de interromper. O que muitos não enxergam é a profunda ferida emocional que tal ruptura causa. Sim, é óbvio que há dor, saudade e toda uma avalanche de emoções que surgem. Mas há algo mais difícil de se enxergar e que, inevitavelmente, haverá uma tentativa de se recuperar. E a amizade? Como fica? Se éramos amigos no passado, não podemos simplesmente voltar àquilo que fazíamos antes de começar a namorar? Como disse John F. Kennedy:

Queremos que tudo seja como foi antes, mas a história não o permite.

A questão fundamental é: houve um relacionamento no qual os dois investiram tempo, mente e coração e não há como recuperá-lo. Em termos bastante frios, a bolsa de valores quebrou e o seu investimento foi perdido. Aquilo no qual você depositou a sua confiança já não é mais. E aí? Resta recolher os cacos que sobraram e tentar reconstruir algo? Não é bem assim. O impulso inicial é se distanciar, obviamente. A não ser que ambos ainda estejam tentando se reconciliar, o normal é ir cada um para o seu canto. Agora, uma vez passado o baque inicial, começa o processo de sentir falta daquele vínculo emocional firmado, e é justamente aí que mora o problema.

Há uma intimidade normal em toda boa amizade, mas ela não é igual àquela que se desenvolve num namoro. Em vista disso, é necessário que o ex casal reconheça que estão em um novo molde de se relacionar. Deve haver uma ruptura, uma interrupção clara e reconhecida naquilo que os dois se condicionaram a viver. Não há como viver aquela mesma intimidade anterior uma vez que o compromisso foi desfeito. Simplesmente não há. Se isso acontece, ou alguém está tentando voltar atrás e remendar as coisas ou não consegue deixar de ter aquele tipo de intimidade. Ninguém quer perder uma boa amizade. Mas o que sobrou depois do namoro não é simplesmente “aquilo que se tinha antes”. A história não o permite. Logo, o que deve ser feito?

Primeiro, deve se dar um tempo para que as feridas sarem. Não tem como simplesmente negligenciar os efeitos do ocorrido. Não tem, não adianta insistir. Segundo, deve-se identificar o padrão de relacionamento e grau de intimidade do namoro e reconhecer que não há como mantê-los fora da segurança do compromisso firmado. Não adianta, você tem que entender que a outra pessoa que sempre teve acesso a você não pode mais ter a mesma liberdade, se não, nunca deixam de ser namorados. Vai que um das duas começa a namorar sem cortar o vínculo emocional anterior? Aí é uma falta de respeito com o novo namorado(a) e uma mentira consigo mesmo(a). Imagina eu reclamando e desabafando da minha namorada atual para a minha ex namorada? Não pega bem; e nem venha tentar me convencer do contrário.

Então… tendo dito isso, tem como ser amigo de ex? Aí que é complicado. Para se travar a “nova amizade”, é necessário enterrar o antigo padrão e começar algo do zero. Não dá para ser a mesma coisa. Tem que ser algo diferente. E, para tanto, é necessário um tremendo grau de maturidade de ambas as partes. E por mais que haja todo esse reconhecimento e aceitação e perdão de ambos, ainda assim, vai ser estranho durante um bom tempo.

Será que é possível resgatar aquela amizade? Não, não é. Pode ir esquecendo que não vai adiantar em nada. Ou você é jedi master em lidar com as emoções e consegue ser muito frio e calculista para controlar todas as variáveis incluídas no processo (que acho difícil, já que o Yoda era solteiro e o até Anakin perdeu a cabeça justamente por causa de uma mulher), ou você nunca se verá livre dos antigos vínculos e estará eternamente refém dos relacionamentos passados.

Então… existe amizade depois do namoro? Impossível não é, mas eu acho muito improvável e um tanto perigoso, para ser muito franco.

E o que fazer com a história e o tempo vivido? Só há uma coisa a se fazer: é colocar-se inteiramente aos pés da Cruz de Cristo e clamar para que Ele limpe o seu coração, sarando as feridas e os desejos para que você se levante lavado e restaurado pelo sangue que ali foi derramado.




Fonte: Blog do Andrew
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