domingo, 3 de agosto de 2014

Eu, as tempestades e o Salmo 121

Quando as tempestades da vida chegam abruptamente sobre mim, elevo os meus olhos e fito o horizonte por detrás das linhas dos prédios e das casas ao longe e pergunto: De onde vem o meu socorro?

Suspiro profundamente enquanto sinto um nó apertar a minha garganta, deixo meus ombros caírem, inclino a cabeça para trás e então avisto o céu. Nesse meio de tarde tão quente, não há muitas nuvens lá no alto exceto as densas e negras nuvens que pairam bem aqui dentro da minha alma. O meu socorro vem do Senhor, o criador dos céus e da terra, eu sei.

Decido caminhar um pouco, quero avistar o parque que está próximo, pois lá sei que verei lindas árvores espalhando generosamente suas copas e proporcionando sombra para os que praticam caminhada por lá. Talvez haja algumas crianças brincando no playground, quem sabe estão passeando de pedalinho no lago. Enquanto sigo em passos lentos, meus olhos observam o caminho até o parque, sei que ele não permitirá que eu tropece, aquele que me protege permanecerá alerta. Ele está sempre lá, atento.

O semáforo de pedestres dá sinal verde e posso seguir adiante atravessando para o lado onde fica o parque. É horário de verão e o calor está realmente incomodando. Quando chego ao lado arborizado, generosas sombras me recepcionam e sinto que o Senhor é o meu protetor; como sombra que me protege, ele está sempre ao meu lado.

No parque, tudo é vida. Há pessoas caminhando. Há crianças correndo entre os brinquedos, algumas arriscam andar de patins no teatro de arena, aproximo-me para observá-las. Trôpegas devido ao piso inadequado, com joelhos vacilantes balançam as mãos em busca de equilíbrio e quando caem, soltam alguns risinhos nervosos e logo se levantam. Passam na minha frente e sorriem, orgulhosas de suas peripécias e coragem. Eu sorrio de volta e viro-me para continuar os meus passos e penso, o Senhor me protegerá de todo mal, ele protegerá a minha vida.

Olho ao meu redor procurando um local para me sentar, quanta vida há ali no mesmo lugar. Algumas aves agitam-se de um lado para o outro por cima das árvores, um três atletas treinam canoagem na outra ponta do lago, posso ouvi-los conversar entre si, mas não consigo compreender o que dizem. Do outro lado da margem avisto algumas senhoras sentadas sobre uma toalha estendida no chão, elas estão lendo. Escolho a minha árvore. Sento-me e recosto no tronco. Observo o lago, deve haver peixes ali. Há vida, muita vida por todo lado. E há essa paz e essa alegria no ar. Não é uma alegria escandalosa, não é uma paz que grita para ser notada. É praticamente uma quietude e também uma solidão. É como se essa alegria não fosse percebida, e me pergunto se os outros também estão notando-a ali. Permito-me olhar e observar tudo, como quem sente o sabor de toda a beleza, a alegria, a vida e a paz que se pode ver. E então, após um tempo que não pude mensurar, percebo que o sol começa a se despedir, recolhendo-se por trás da colina. As senhoras fecham seus livros, recolhem as toalhas e se vão. Muitas pessoas chegam para caminhar durante o início da noite que hoje será de lua cheia. É hora de ir. Levanto-me relutante, me estico alongando os braços ao alto numa preguiça confessa.

Então percebo que a tensão se foi, meus músculos não estão mais rígidos. A paz que estava quieta por ali me observando, agora está comigo. As densas nuvens se foram. Volto pelo caminho e dirijo-me para casa, pois sei que o Senhor protegerá a minha saída e a minha chegada, como sempre o fez.




Fonte: Andréia Cerqueira, Meninas do Reino no Genizah
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